Sem violência e opressão: outro tipo de trote é possível
Todo início de ano letivo, notícias de trotes abusivos, violentos e desrespeitosos em universidades públicas e privadas ecoam nos meios de comunicação. São problemas, principalmente, de atos de humilhação impostos como ‘rituais de passagem’ pelos veteranos aos novos estudantes.
“A UNE sempre combateu e considera inaceitável qualquer tipo de prática violenta”, destacou o diretor de Humanas na UNE, Ivo Braga. Ele lembra que o trote como integração sempre foi o foco da entidade e campanha permanente de Norte a Sul do país.
O estudante Thiago Tohmpson, do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga (Caev) da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra que já houve na universidade situações muito problemáticas que levaram a instituição às capas de jornais. Por isso, os representantes das entidades estudantis têm tentado mudar este panorama.
“Há uma comissão de trote e durante a organização sempre nos sentamos juntos, o CA, a Atlética e a comissão, para discutir as brincadeiras e atividades”, explicou.
Entre as ações estão gincanas, festa do DCE e a arrecadação de doações para a creche do Morro do Palácio, que fica perto da UFF. Além disso, prestam apoio ao acolhimento estudantil que a direção da Instituição faz com estandes e barracas para apresentar a universidade para os calouros. Nessas ações conjuntas, as entidades estão sempre conscientizando a estudantada contra o trote violento e, de acordo com Thiago, a galera “tem recebido e compreendido bem”.O Caev também organiza um passeio entre calouros e veteranos com visita ao Museu da Justiça, a OAB e ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
“Temos que reproduzir dentro da faculdade o que a gente quer para o mundo. Não dá para repetir um discurso opressor para os calouros que acabaram de chegar à universidade e ainda não sabem o que está acontecendo”, afirmou.
Já na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) a Cidade dos Calouros vai ter atividades de socialização como doação de sangue, teste de HIV, confecção do cartão do passe-livre estudantil, jogos e oficinas culturais.
“Fazemos campanha contra o trote violento e apresentamos formas de ressignificar esse acolhimento dos calouros”, afirmou o coordenador do DCE Vinicius Fernandes.
Ele conta que no primeiro semestre do ano passado a entidade lançou uma ouvidoria e a primeira denuncia registrada foi grave: um estupro durante um trote. Ele afirma que o caso está sendo apurado.
No Mato Grosso, os estudantes também apostam na integração das entidades estudantis, atléticas, empresas juniores e coletivos que estão trabalhando de forma unificada.
“Ainda existem práticas de trote abusivos que acabam fugindo no controle, mas a nossa ideia é mostrar que existem outras formas de receber os calouros”, destaca.
O presidente do DCE da Unicamp, o estudante Cris Grazina, lembra que na sua instituição existe um número grande de Atléticas e CAs que tem mulheres na direção o que é uma forma “importante no combate das opressões dentro da universidade”.
Na Unicamp, uma das principais universidades do país, o DCE começou cedo a campanha de conscientização, organizou e apoiou várias ações de trotes solidários e de recepção de calouros semana passada. “Distribuímos camisetas e material impresso dizendo “Violência Não é Trote”, destacou Cris. Além disso, ele explicou que a conscientização é feita com os calouros também para não aceitarem abusos: “Violência não é normal”, finaliza.
Fonte: UNE
Nota do SAE: Na Unicamp, a Deliberação Consu 011/99, respaldada na lei Estadual. 10.454/99 proíbe o trote violento e veteranos envolvidos podem ter sansão acadêmica.